Foi-se o tempo em que ser uma excelente cozinheira era coisa de Amélia... Hoje em dia é muito chique saber receber os amigos com um prato especial, “receita de família”...
Tive uma avó que era uma cozinheira de mão cheia, como se dizia... Ela era de um tempo em que não se achava qualquer ingrediente essencial no supermercado da esquina. Às vezes tinha-se que andar quilômetros para conseguir boa carne. E os temperinhos eram plantados no quintal de casa mesmo: pimentas, cheiro verde, salsinha, cebolinha, coentro, erva doce... Tudo muito natural, muito especial, e com muita criatividade. Não havia quem não adorasse a culinária improvisada e saborosa da Dona Gríola! Podia-se chegar a qualquer hora na casa dela que comia-se bolinho de chuva, biscoitinhos polvilhados com canela e açúcar mascavo, acompanhados com um perfumado café coado em filtro de pano. E domingo era uma festa! As massas, o frango ensopado, o tradicional tutu de feijão com calabresa e cebola... dá água na boca só de lembrar aquelas comidas simples, cozidas em panelas antigas, que tinham um tempero que jamais provei igual, desde que minha avó parou de cozinhar para sempre... “ah, deixa disso, menina, é só feijão...” dizia ela toda modesta, quando não conseguíamos conter os elogios. E ela também fazia o milagre da multiplicação, por que na casa da minha avó, comiam quantos chegassem, e sempre aquela fartura que a gente nunca sabia de onde vinha...
E o Empadão de frango? Você acha que conhece Empadão de Frango por que jamais teve a felicidade de provar o da minha avó (que ela chamava de Pastelão). Felizmente essa iguaria não se perdeu, por que um tio aprendeu a fazer, e espero que ele ensine a sua filha, para que as futuras gerações conheçam esse especial prato dos Fiuza. O dele é parecido, mas ainda não é aquele, acho que o ingrediente que falta é o que minha avó colocava de afeição, carinho e devoção, que ninguém sabe imitar, ao amassar com as mãos a massa do Empadão.
Não herdei absolutamente os dotes culinários da minha avó... Lendo Como água para Chocolate, esse livro delicioso da Laura Esquivel, e lembrando da minha avó, tive grande pena de não saber cozinhar. Aliás, cozinhar eu cozinho (muito mal), mas não sei encantar... Por que culinária é encantar os sentidos.
Acho engraçado esses grandes chefs de cozinha ensinando pratos sofisticados em programas de tevê... Uma parafernália imensa, ingredientes que nunca ouvimos falar, medidores, uma alquimia maluca, para uma porção ínfima de comida que mal enche o buraco do estômago e não têm gosto de nada...
Queria vê-los usando uma panela de ferro velha e uma colher de pau, e transformando farinha e água em algo delicioso, para dez crianças esfomeadas num lanche da tarde...
3 comentários:
menina, assim vc machuca meu coracao. que saudades da minha vó tb. e da vó da minha vó. e da avó de minha vizinha, e de tantas avós que me marcaram, principalmente pelo paladar.
Incrivel como essas nossas saudosas avós tem "gosto" né?
Nem me fala...
Minha vovó que partiu era aquela avó gordinha que adora a cozinha e mais ainda fazer os gostos dos netinho! E minha vovó materna ainda viva graças a Deus, não pode mais cozinhar, ela já está muito velhinha....vale ficar remexendo na memória os cheiros e sabores...
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