terça-feira, 25 de agosto de 2009

Envelhecer...


Um dos nossos grandes medos é envelhecer.

E você percebe que está ficando velha quando compara sua vida com apenas alguns anos atrás e embora não perceba mudanças físicas significativas, acaba admitindo que já não é a mesma...

Por exemplo... Você percebe que está ficando velha quando todas as suas amigas são casadas, algumas até tem filhos e você raramente tem tempo de sentar na calçada com elas e comer uma panela de brigadeiro, ou o programa de vocês passou de uma balada no sábado à noite para um café corrido ou um jantarzinho (com os respectivos maridos)... Você começa a freqüentar chás de bebê, casamentos e formaturas quando antes os encontros eram em festinhas de 15 anos, churrascos, fins de semana regados a chop em sítios com piscina... E daí para passar a freqüentar funerais é um pulo!

Você percebe que está ficando velha quando começa a neurar com o filtro solar. Você mal se lembra de todos os verões que ficou torrando no sol e passando coca-cola na pele para ficar “negra”, agora, tudo o que você quer é distancia do sol e dos perigos do câncer de pele...

É incrível como valorizamos nossa própria cama ao envelhecer. Passamos a desejar cada vez mais tempo nela, quando antes achávamos que dormir era perda de tempo. Quanto mais o tempo passa, e menos tempo temos, percebemos que o tempo só é importante se podemos gastá-lo fazendo o que realmente gostamos de fazer... E quando dormir é o que você mais gosta de fazer, com certeza está ficando velha!

Você fica chata! Simplesmente chata! Tudo te irrita... Você passa a ficar intolerante com som alto, com lugares cheios, com pessoas fumando perto de você, com carros estacionados na frente da sua garagem, com crianças jogando bola por cima do seu muro...

Outro sinal característico é se tornar uma reclamona de carteirinha! Você passa a reclamar de tudo e de todos, e seu maior passa tempo é procurar algo de que pode reclamar.

Enfim a prova irrefutável da sua idade avançada é não compreender quando as pessoas conversam com você... Sabe aquelas expressões que você nem tem idéia do que significam, aquelas gírias de que você nunca ouviu falar? Pois é, isso é o novo Português, e você nem imagina onde foram parar as vogais da palavra você quando recebe um e-mail do seu sobrinho...

Sem falar quando caem na risada se você quer parecer moderninho e diz: nossa que visual estribado! Gíria velha é sinal de envelhecimento eminente...

Depois disso, é só esperar a morte chegar...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O poder da Legitimidade


Nós, ocidentais, capitalistas, cristãos, temos fissura por uma burocracia, por um documento, por um comprovante, um atestado. Gostamos de um pedaço de papel com uma assinatura, de uma bula, de um manual. A verdade só existe para nós quando é escrita, registrada, protocolada em várias vias e autenticada.

Fiz um curso semana passada onde o autor explica que o poder da legitimidade está baseado no costume que o ser humano tem de se submeter à autoridade. Somos condicionados desde criancinhas a obedecer a ordens e a seguir uma voz mais autoritária, primeiro por nossos pais, irmãos mais velhos, professores. Mais tarde pelas leis, regras, autoridades e até mesmo pelos ditos da moda, pela conveniência e pelos nossos costumes.

Acrescentando, acho que o poder da legitimidade também está no fato de o ser humano não ser programável, estável e nem imutável, e ser principalmente corruptível. Estamos a cada dia querendo mudar tudo e nós mesmos, portanto eu poderia ter um nome a cada vez que meu humor variasse se não houvesse uma penca de documentos me informando e ao resto do mundo que sou Fernanda Fiuza Calado, incontestavelmente.

Assim, seguimos solicitando recibos e valorizando só o que é atestado por um nome forte, uma marca, uma boa indicação.

A legitimidade também está baseada na segurança. Hoje nossa maior preocupação é: primeiro proteger nosso bem estar, depois nosso bem material. E olha que não necessariamente nessa ordem!

Fico doida quando ouço alguém dizer: você me envia um documento colocando isso por escrito?

Está feita a prova. Aceita em tribunais. Escreveu não leu o pau comeu. O problema é que o papel aceita tudo. E o problema é que se aceita tudo o que está no papel.

Foi-se o tempo que a palavra dada valia mais que qualquer documento. Por que a palavra está baseada na moral, em valores, em ética. É quase uma questão de moda, ninguém é ético por que ser ético não dá manchete, não causa frisson e não abala. Ética está em extinção.

E tenho escrito!

sábado, 8 de agosto de 2009

Psicologia infantil


É certo que tudo tem dois lados, assim como toda ciência tem benefícios e malefícios.

Eu não sei se os benefícios que Psicologia trouxe para a humanidade compensam a criação de uma geração de crianças sem limite do tipo que se jogam no chão do shopping em pirraças escandalosas por causa de um brinquedo novo que, assim que chegar ao seu armário vai ser esquecido para sempre, que se empanturram de sanduíche do Mc Donald´s por mais que a mãe ou o pai implorem para que comam o brócolis ou que colocam avisos de Do not disturb na porta do quarto enquando sofrem abuso sexual virtual de algum pedófilo na internet.

Pude perceber que essas crianças geralmente são aquelas criadas com toda minunciosa psicologia, são filhos da classe média alta com curso superior, de pais que acham que têm que compensar sua ausência (cheios de culpa) fazendo todas as vontades dos reizinhos da casa. Aliás, compensação, sublimação, são termos da psicologia... Esses pais preferem um bom diálogo às jurássicas palmadas. Colocam os filhos num nível de igualdade, olham nos olhos, falam pausadamente, mesmo que a criança esteja "colocando fogo na casa".

Outro dia, numa reunião da igreja dos meus pais aqui em casa, pude perceber o poder de deseducar da psicologia. Todas as crianças (filhos de psicólogos emocionalmente saudáveis, cristãos e educadíssimos) agiam como se estivessem num playground, na sala da minha casa, de paredes recém pintadas e sofá recém reformado. Eles só não conseguiram quebrar as lâmpadas, por que todo o resto os pestinhas fizerem. Derramaram refrigerante em tudo que era almofada, pisotearam o sofá, arranharam todos os DVDs e por pouco não me quebraram a TV. Incapaz de me conter, dei uns berros e acabei com a farra. Os pais nem tomaram conhecimento, ouvi no máximo um "filhinho, não faz isso..."

No meu tempo, criança tinha seu lugar. Comíamos antes do adultos, silenciosamente, e ai se não mastigássemos a verdura: nada de doce depois! Bastava o pai olhar, nem levantava a voz, nem ameaçava, que já tremíamos de medo e corríamos para os cadernos da escola. Chineladas sempre que aprontávamos. Presente, só no Natal e no aniversário, e mesmo assim era o que o pai podia comprar. O pai não morria de culpa se o filho não tinha o tênis mais caro, ao contrário, ensinava o filho a agradecer pelo que ele tinha e pronto. Íamos à igreja todo domingo de manhã, de boa vontade. Dividíamos um quarto de 3 metros quadrados com 2 irmãos e nem por isso reclamávamos de falta de privacidade (aliás privacidade é algo que parece essencial para uma criança de 7anos, conforme a recente Psicologia). Não ficamos traumatizados ou revoltados por que éramos beliscados sempre que fazíamos alguma arte. Nenhum dos meus amigos se drogou por que o pai trabalhava 20 horas por dia para sustentar a família e não ia à peça de teatro da escola por conta disso.

Não sei como seria criar um filho num mundo como o nosso. Mas com certeza gostaria de criar um filho exatamente como fui criada! Com muito beijo e abraço, esperando com asiedade o Natal chegar para ver se "papai noel" ia mandar aquele brinquedo que esperei o ano todo, sendo obrigada a repetir a "tabuada" toda antes de ter permissão para brincar, levando palmadas nas horas certas, entendendo perfeitamente que a quantidade de desejos realizados não é diretamente proporcional ao carinho e ao amor que um pai tem pelo filho, sabendo que quando meu pai chegava à noite cansado do trabalho, ele nunca estava cansado o bastante para me contar uma história antes de dormir.