segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dom Casmurro


Estou adiando essa resenha... Falar de Machado de Assis é uma puta responsa...

Afeee(respirando fundo).

Por onde eu começo?

Talvez algumas pessoas achem difícil se apaixonarem pela história de Bentinho, por que, fundamentalmente, a narrativa é destituída de emoção. Essa é umas das características do Realismo do século XIX, o caráter racional e analítico das situações que tanto encanta em Machado de Assis, e as constantes saídas da história para incrementos filosóficos pontuam o mais celebrado romance do autor.

Porém,  Dom Casmurro é uma história de paixão e de loucura.A paixão de Bentinho pela épica heroína da literatura brasileira: Capitu.

Vamos à história!

Bentinho está destinado por uma promessa de sua mãe a ser padre. Porém, o arranjo não satisfaz o garoto, tudo por que sua vizinha de muro, a esperta e faceira Capitu, está tirando o rapaz do sério. Aliando-se a José Dias, o fiel agregado da família, e à namorada, arquitetam secretamente o seu plano de fuga.

Mesmo assim o moço vai para o seminário, onde acaba conhecendo seu grande amigo, Escobar. Mas como nenhum dos dois demonstra talento para a carreira eclesiástica, acabam saindo e suas vidas parecem seguir o roteiro normal, Bentinho casa-se com sua amada, Escobar casa-se também, e os dois casais são amigos e inseparáveis.

A vida de Bentinho é feliz, com a mulher que ele amou desde menino. Só uma dificuldade para terem filhos parece turbar a calmaria de seus dias. Até que Capitu finalmente engravida, e colocam o nome de Ezequiel no menino, que é o primeiro nome de Escobar, para uma homenagem.

Porém, à medida que o menino cresce, Bentinho começa a se incomodar com a semelhança do filho com o melhor amigo. Estimulado pelo ciúme que tem da mulher e pelas lembranças da moça quando criança, sempre muito à frente de seu tempo, a suspeita vira certeza quando Escobar morre afogado, e os "olhos de ressaca" de Capitu a denunciam, no momento do velório do possível amante.

Bentinho pensa em suicidar-se, em matar o filho, enfim, sempre a loucura do personagem principal. Porém a loucura não chega a vencer sua fraqueza, e o arranjo ideal é despachar a esposa com o filho para a Europa.

A incerteza da traição de Capitu é o ponto alto da trama. E a amargura de Bentinho por toda a vida, o desfecho inevitável.

Ano passado, a Globo produziu uma minissérie num formato inovador, entitulada Capitu. É uma produção bem cuidada que arrematou alguns importantes prêmios, inclusive internacionais, e primou pela poesia e beleza da fotografia, trilha sonora e figurinos. A protagonista foi representada pela deslumbrante Maria Fernanda Cândido e Bentinho é o novatinho cool da tv, Michel Melamed. Porém, para quem não conhece esse importante capítulo da Literatura Brasileira, é possível que a minissérie não seja um retrato muito esclarecedor sobre a genialidade de Machado de Assis. Repito: a coisa mais gostosa do livro é perceber que o autor "sabota" sua narrativa o tempo todo, roubando do leitor a surpresa, a emoção, quase nos convidando a penetrar na sua "casmurrice". Por outro lado a minissérie conta a história usando o artifício oposto: a fantasia e a emoção da linguagem teatral, do cinema mudo e da ópera...

Mais uma vez, muito bom dividir com vocês um dos meus dez livros preferidos!

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