quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Só pra quem tem Peito!






Há algum tempo, discuti aqui no blog a repercussão do caso da universitária de minissaia, Geyse Arruda. E não sei por que esse assunto sempre volta, como o da professora mineira afastada por usar decotes. Sempre me estarrece a frequente saída das discussões produtivas e a concentração de atenção nas coisas sem importância... Por que discutir a violência nos meios elitizados e a má qualidade da educação pública se podemos meter o pau na roupas das mulheres?


Fico pensando como chegamos nesse grau de moralismo retrógrado numa época em que tudo o mais está evoluindo para níveis nunca antes imaginados, como a tecnologia e a comunicação. Enquanto o futuro está acontecendo sob nossas vistas, estamos retomando valores contra os quais nossas avós e mães lutaram arduamente para que hoje pudéssemos ser livres. E isso me dá uma tristeza imensa: será que a luta das nossas antecessoras foi em vão?

Quando Leila Diniz popularizou o biquíni nas praias cariocas, escandalizando a sociedade e libertando nossos corpos de críticas e julgamentos, ela contribuiu para abrir, como tantas outras, portas lacradas. Estamos fechando essas portas para inaugurar novas regras sociais, aquelas que impõem adequações ao comportamento feminino. Estamos refletindo demais sobre onde e quando usar certo tipo de roupa, o que dizer e em qual tom de voz sob o pretexto da elegância. Nossos biquínis estão ficando maiores e nossas mentes mais estreitas?

Será que não há nada incomodando mais que o tamanho de um decote?

Desde quando peitos se tornaram obscenos? Considero muita coisa obscena por aí, mas peitos definitivamente não estão na minha lista. São belos, são femininos, são artísticos, são fofos. O ícone maior da maternidade. Sabemos que algumas idéias são cíclicas no movimento histórico, mas isso foi quando a história levava séculos para acontecer! Faz sentido retomar limites numa era em que tudo muda diariamente?

Quando penso nas sacerdotisas cretenses exibindo os seus seios nos rituais sagrados e religiosos para demonstrar o seu poder, há milênios A.C , vejo como as mulheres atuais não sabem nada sobre o próprio corpo e como estão presas à tirania dos padrões de beleza. Submetemos-nos a eles com uma docilidade que faria vergonha às mais meigas Amélia do pré- guerras.

Claro que num mundo de hoje não cabe mais peitos à mostra. O corpo feminino foi vulgarizado pela exposição descabida da mídia. Foi artificializado pelo boom do silicone. Foi rebaixado ao nível do desejo masculino, como se o nosso corpo só servisse para isso, para provocar o outro gênero, para vender cerveja e revistas de baixo calão.

Se eu pudesse deflagrar uma nova revolução, eu pregaria o uso de burcas no ocidente! Quem sabe vestindo nossos corpos como usamos nossas mentes, pudéssemos compreender que há mais em jogo na simples crítica ao decote que podemos supor.

E viva a ousadia!

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