quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Quando você conhecer alguém...
Quando você conhecer alguém que a faça desejar mudar de estado civil, pelo seu próprio bem, abandone sua vida, aquela antiga, com aqueles caras que não a mereceram e a fizeram sofrer, que a ensinaram bastante sobre quem você não queria ao seu lado e que roubaram algumas noites em que você passou na cama, sozinha, chorando.
Abandone também aquele grande amor do passado, aquele primeiro, o que lhe tirou o fôlego e que acreditou que seria para sempre, mas por algum erro de percurso, você perdeu. Sim, enterre também as boas lembranças, os bons momentos que a fazem suspirar quando você, por um descuido ou outro, acaba viajando em sonhos para um tempo em que foi muito feliz com alguém.
Não mencione nomes, lugares, episódios.
Quando você conhecer alguém que a faça desejar começar tudo de novo, de um jeito novo, para uma vida nova, mesmo que nada seja certo nem duradouro sobre a face da terra, entenda que suas experiências são suas, para seu crescimento, seu aprendizado, sua história, e que o outro não merece compartilhá-las (por que quer lhe dar novas histórias), nem precisa (por que tem seu próprio passado).
Ao contrário, no lugar de perder tempo detalhando cada ex, cada aventura, cada romance, bem ou mal fadado, aproveite para construir coisas novas sob escombros escuros. Aproveite para se reinventar. Permita-se cometer erros (os mesmos que você já cometeu). Permita-se repetir clichês. Permita-se o frescor de uma nova relação.
Não contamine sua nova existência com um passado mesquinho. Pois o passado é mesquinho sempre. Está engessado no que você fez e viveu. Nada pode se comparar à enormidade de um presente em construção e a um futuro vindouro.
Nenhum amor pode florescer regado de coisas usadas. Liberte-se.
A vida é breve demais para que a gente insista em assistir sempre o mesmo filme. Ler o mesmo livro. Ficar preso à coisas que acabaram.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Menino ou Menina?
Eu nunca pensei seriamente em ter filhos. É verdade que esse
tipo de sonho, como a maioria das minhas aspirações, eu deixei bem ao acaso,
embalado na velha e vaga frase: Se acontecer...
Quando optamos pelo se
estamos contando com a possibilidade de nunca acontecer. É mais prático. O que
não vai acontecer não toma nosso tempo nem nos aflige com as várias
possibilidades. Porém, às vezes algo com que não contávamos simplesmente
acontece e aí nos vemos obrigados a construir todos os planos que deixamos de
fazer por qualquer motivo, até por medo.
E foi assim que o teste de gravidez deu positivo. Mal
comunicada a gravidez e mal recuperado o susto, me vi diante de tantas
questões! É como se a simples tarja cor de rosa no teste de farmácia pudesse
abrir nossa mente e colocar lá dentro todas as respostas: Você está feliz?
Vocês vão se casar? Você prefere menino ou menina?
Essa é uma das grandes questões: Menino ou menina?
Cresci cercada de mulheres e esse é um universo que eu
conheço bem. Bem mesmo. Toda mulher sabe que existe um mundo paralelo onde
somente nós entendemos uma série de sentimentos. Aliás, sentimentos é a palavra
que melhor define o mundo feminino. Não sei se são os ciclos hormonais, a
influência da lua ou apenas uma característica típica do gênero, desenvolvida
pelos milênios para preservar nossa espécie, fato é que toda mulher sente muito
mais que qualquer homem qualquer coisa. Dor. Amor. Solidariedade. Ódio. Inveja.
Compaixão. Isso faz parte de nós.
Então, quando penso em criar uma filha não vejo nenhum
desafio. Só penso no prazer de ter uma igual, alguém que vou entender a cada
dia como parte e extensão de mim mesma, e antes de mim, de minha mãe, avó, e
toda uma geração de mulheres que acumularam valores, força e essa dor própria
do sexo. Também penso em delicadeza e laços cor de rosa como estereótipo comum
de quem adora coisas de mulherzinha, mesmo sabendo que as crianças, às vezes,
gostam de nos contrariar, e preferem skates e guitarras elétricas a sapatilhas
cor de rosa e pianos de cauda.
Mas criar um filho seria para mim um verdadeiro confronto
comigo mesma, com meus valores, meus medos, minhas decepções. Isso por que
entendo que apesar de todo o feminismo tarjado de igualdade, o mundo é dos
homens.
Não se choquem, caras amigas, será que apesar de tudo o que
vivem diariamente, ainda não entenderam isso? Sim, o mundo é dos homens, sempre
foi, não sei se assim permanecerá, mas nadar contra a maré até hoje não nos
trouxe nenhum alívio. E a culpa dessa propriedade é de ninguém menos que nossa,
pois que os colocamos no mundo e não os ensinamos a dividi-lo conosco.
Todos os dias nascem milhares de meninos e o que eles
aprendem de suas mães? É essa a grande questão que eu teria que descobrir.
Ciente de que a única coisa que não
gostaria de passar para meu filho é a ideia de continuidade. Terei eu o direito
de ensiná-lo que o mundo precisa mudar, e que a minha parca contribuição para
tanto é acreditar que o mundo pode ser diferente? Terei eu o direito de incutir
em sua mente a necessidade de esperança, de comunhão, de amizade, de amor e de
paz? Posso moldar uma pequena mente para crescer pensando um pouco diferente da
maioria e transgredir a estupidez comum da humanidade, ensinar o respeito por tudo e a todos, as diferenças de cor, credo, sexualidade, a inutilidade do preconceito e da violência, o ser forte sem ser rude, o ser superior sem inferiorizar, o ser homem sem ser macho?
Ainda não sei. Pois
os planos que deveria ter feito ainda bem jovem, aqueles onde nascem as mães,
deixei ao acaso. É preciso correr contra o tempo. Nove meses para resgatar uma
vida de negligência.
Ainda outro dia, quando discutia o sexo dos anjos com o pai
do meu filho, ele acabou me esbofeteando
taxativamente: há coisas sobre os homens que as mulheres nunca irão saber,
simplesmente por serem mulheres e vice e versa. É verdade.
Mas ele não deixou de me tranquilizar, entre um carinho e
outro, com a experiência de quem já é pai: sempre
nasce uma mãe quando nasce um bebê.
Estou grávida de mim mesma.
***
***
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Por que é preciso Brigar
Frequentemente ouço alguém dizer, até com
certo orgulho, que é muito feliz em seu relacionamento e que nunca briga com
seu parceiro. Quando ouço essas coisas não consigo deixar de ficar alerta. Está
claro para mim, num casal que nunca briga, que alguma das partes, ou ambas,
estão se anulando permanentemente para manter o relacionamento sem conflitos, o
que pode parecer saudável, mas pode também esconder uma catastrófica bomba
relógio.
Quando uma nova relação se
inicia, o primeiro momento é de fascínio. Tudo o que a pessoa faz é lindo. Mas
basta arrefecer o primeiro sopro da paixão para a gente começar a se chocar
com opiniões e comportamentos que não notávamos. Ou então, basta a intimidade
crescer para o defeito (que antes não nos incomodava) aparecer.
Porém, como todos sabemos,
ninguém é perfeito. Humanos que somos, defeito é o que não falta a ninguém, e
não são os defeitos que fazem a gente morrer de amores pelo outro, são as
qualidades. Amar é admirar mais as qualidades que odiar os defeitos.
Nessa descoberta do outro,
frequentemente, são necessários ajustes. Ninguém, salvo raríssimos casos
novelescos, nasce se encaixando perfeitamente em outra pessoa, é preciso aparar
as arestas para o clique ser definitivo. Afinal todo relacionamento precisa de
regras e limites. Existem as coisas que
vamos aceitar felizes, coisas que vamos tolerar com dificuldade e aquelas
com as quais não conseguimos conviver de forma alguma, não sem agredir a nós
mesmos. Tudo isso precisa ser esclarecido para se construir um relacionamento
saudável e satisfatório, porque de amor somente ninguém vive. É preciso também
boa dose de tolerância, respeito, generosidade e interesses futuros em
comum. Se pelo menos uma das partes não
tiver o temperamento extremamente dócil e tolerante, essa adaptação ao outro
vai passar por uma boa dose de conflitos.
Admiro os casais que conhecem a
arte da negociação pacífica. Porém, nem sempre é possível negociar. Às vezes a
saída só surge com aquela briga de arrepiar os ossos. E isso todo mundo teme. A
gente sempre acha que o relacionamento não vai sobreviver a um grande choque.
E se não
sobreviver, melhor. Um relacionamento em que ao outro não é permitido nunca
perder o controle e em que não exista nada que se possa perdoar, não era para
dar certo mesmo. Acaba junto com a briga e tarde. Os relacionamentos genuínos
são os que sobrevivem a tempestades.
É claro que não quero dizer com
isso que é legal brigar o tempo todo e por qualquer coisa. Brigar não é a primeira nem mais fácil saída. E são poucas – muito poucas – pessoas no mundo que
conseguem brigar com dignidade, ou seja, sem ofender, humilhar ou agredir o
outro. Mas uma boa chamada de atenção, uma discussão mais acalorada ou um DR
firme não mata ninguém. E o casal pode sair disso fortalecido. Claro, quando há
respeito e amor.
Brigas frequentes ou conversas
que sempre culminam em discussões são sinais evidentes de que há algo muito
errado. Mas não brigar nunca é um sinal de que alguém está sendo negligenciado,
ignorado e até mesmo oprimido na relação. Não brigar nunca significa ceder
sempre, e ceder sempre não é bom para ninguém. Quem cede sempre em suas
necessidades nunca as tem atendidas, e com o tempo, a mágoa e o rancor podem
sobrepujar o amor.
O importante num casal é saber
quando ceder e quando lutar. Casais inteligentes sabem escolher muito bem suas
batalhas, saem fortalecidos e se sentem mais apreciados e respeitados. Sabem
que é preciso estabelecer um sistema de troca, pois amar é dar e receber. Sabem
negociar com carinho. Sabem reconhecer o que é importante para o outro sem
jamais minimizar seus sentimentos. Sabem o que é manha e o que é papo sério.
Sabem se perdoar e reconhecer quando passaram dos limites. Sabem pedir no lugar
de exigir e sabem que um não hoje pode significar um sim amanhã.
E sabem quando uma bela briga
pode apimentar o amor.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Não é só por vinte centavos...
Pessoalmente eu não acho que importa muito o motivo pelo qual cidadãos vão às ruas manifestar sua insatisfação. Não importa se é por 20 centavos, se é pelo casamento gay, se é pela miss Brasil. O que importa para mim, e o que deveria valer aos olhos dos brasileiros é que o direito de nos manifestar contra qualquer coisa deveria ser protegido pelo governo que elegemos e apoiado pela opinião pública.
Foto de um manifestante em São Paulo, 17/06/2003
É fato que nem todas as manifestações são inteligentes e consistentes. Em alguns casos, cujos exemplos nem vou citar para não causar polêmica, as manifestações causam apenas estorvo, prejudicam o trânsito e às vezes, com consequências mais sérias, geram muita violência. Mas o que deveria chocar em primeiro lugar é a brutalidade com que geralmente as manifestações no Brasil são abafadas. O que devia ser inaceitável para nós é sermos atacados com tamanha movimentação militar (que raramente é despendida contra bandidos). Isso deveria causar horror, repúdio, intolerância e acima de tudo, atitudes de todos nós. O que o brasileiro tem que entender é que ele tem direitos previstos pela Constituição e a compreensão disso é que vai nos livrar de cair nas mãos de uma nova ditadura.
Agora voltando aos vinte centavos, não sei quem concluiu que é uma quantia irrisória e insignificante. Provavelmente alguém que não sabe fazer conta. Ou que não utiliza o transporte público urbano. Alguém que não conhece a população de São Paulo e que não sabe calcular o preço da passagem vezes dias da semana, do mês e do ano. Alguém cuja lacuna deixada pela ignorância está provavelmente sendo preenchida por meios de comunicação tendenciosos.
A diversidade de opiniões sobre as manifestações contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo pode até surpreender, mesmo por que há milhões de outras causas que mereciam o mesmo tratamento. Mas vencer a apatia da nossa população já é um passo monumental. Penso que se esse acordar for apenas um início, ainda surgirão muitas outras manifestações por causas diversas, algumas nobres, outras nem tanto... Algumas irão incomodar, outras serão hilárias, porém, todo embrião bem nutrido cresce, evolui e quem sabe, num futuro, estaremos às portas da verdadeira cidadania, aquela que considera direitos irrevogáveis e deveres supremos.
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Nem Jorge pra Salvar a Novela das Oito
Novela é uma coisa que eu raramente tenho saco de assistir. Não consigo nem mesmo naqueles momentos de extremo ócio caseiro, quando já cansei de algum livro ou alguma atividade. Prefiro qualquer outro programa televisivo. Mas nem sempre consigo escapar das novelas, se quiser compartilhar um momentinho familiar, já que a tal da novela é preferência absoluta das noitinhas lá em casa (para meu desespero).
Às vezes alguma novela conquista meu coração. Por isso mesmo estou chocada com Glória Perez. Depois de um currículo até razoável, onde se inclui pérolas da televisão brasileira como Desejo, Ilda Furacão, e até a divertida Diarista, vem cuspir essa chatice de Salve Jorge na cara da gente, uma novela sem eira nem beira, mal escrita, mal interpretada, ou seja, um fiasco total em todos os sentidos!
A verdade é que Glória Perez não acerta mais a mão. Não sei de onde ele tirou personagens tão sem consistência, como a mocinha atormentada Morena, cuja atriz, inexperiente para o papel, não tem muito traquejo cênico. Além disso, o casal principal não tem a menor química. Aliás, não existe o casal central, aquele parzinho romântico que fazia a gente suspirar... Ele foi subistituído por uma grotesca suruba Global em que o herói valoroso é capaz de disferir uma frase como: "eu transei com ela (a arquiinimiga de sua amada) por vingança!"
O mocinho cantado em verso e prosa por Roberto Carlos em seu recente sucesso "Esse cara sou eu", que fez a mulherada molhar as calcinhas e sonhar com o príncipe encantado não serve nem pra cafajeste. Pra ser cafajeste ele teria que melhorar muito e muito.
Falando "nesse cara", quem não suporta mais essa música enjoada levanta a mão! o/
O tema do tráfico de pessoas podia ser interessante, mas obviamente Glória Perez não sabe nada a respeito. Uma série de vilões meio idiotas, meio obssessivos, meio atrapalhados mantém uma turma de mocinhas que mais parecem gatas borralheiras que mulheres obrigadas a se prostituírem presas num cenário de dar dó (talvez o orçamento tenha se esgotado com as locações na Turquia).
Não podemos negar que Giovana Antonelli é carismática e divertida. E que a Claudia Raia está musa, num figurino irretocável (dizem que sua personagem foi inspirada na personagem da poderosíssima Madeleine Stowe, de Revenge). Mas o que mais me assusta é a falta de senso crítico do público brasileiro. Ora vamos, somos um país noveleiro... Como é que a gente aceita uma novelinha
meia boca como essa?
É um desfilar de cenas com graves erros de continuidade e contra-regra, e mesmo de elaboração (entrar no elevador para conseguir um sinal melhor para o celular... oi?). E a agulhada fatal? Gostaria de saber como se mata com uma agulha...
Hoje fomos presenteados com a filha da Gretchen dançando Conga la Conga! Gente, Conga la Conga!
Bom, paro por aqui. Não quero ofender os brios dos noveleiros de plantão... Falando nisso, viva a TV por assinatura... Esse luxinho que me salva da Globo no horário nobre. Plim plim!
Às vezes alguma novela conquista meu coração. Por isso mesmo estou chocada com Glória Perez. Depois de um currículo até razoável, onde se inclui pérolas da televisão brasileira como Desejo, Ilda Furacão, e até a divertida Diarista, vem cuspir essa chatice de Salve Jorge na cara da gente, uma novela sem eira nem beira, mal escrita, mal interpretada, ou seja, um fiasco total em todos os sentidos!
A verdade é que Glória Perez não acerta mais a mão. Não sei de onde ele tirou personagens tão sem consistência, como a mocinha atormentada Morena, cuja atriz, inexperiente para o papel, não tem muito traquejo cênico. Além disso, o casal principal não tem a menor química. Aliás, não existe o casal central, aquele parzinho romântico que fazia a gente suspirar... Ele foi subistituído por uma grotesca suruba Global em que o herói valoroso é capaz de disferir uma frase como: "eu transei com ela (a arquiinimiga de sua amada) por vingança!"
O mocinho cantado em verso e prosa por Roberto Carlos em seu recente sucesso "Esse cara sou eu", que fez a mulherada molhar as calcinhas e sonhar com o príncipe encantado não serve nem pra cafajeste. Pra ser cafajeste ele teria que melhorar muito e muito.
Falando "nesse cara", quem não suporta mais essa música enjoada levanta a mão! o/
O tema do tráfico de pessoas podia ser interessante, mas obviamente Glória Perez não sabe nada a respeito. Uma série de vilões meio idiotas, meio obssessivos, meio atrapalhados mantém uma turma de mocinhas que mais parecem gatas borralheiras que mulheres obrigadas a se prostituírem presas num cenário de dar dó (talvez o orçamento tenha se esgotado com as locações na Turquia).
Não podemos negar que Giovana Antonelli é carismática e divertida. E que a Claudia Raia está musa, num figurino irretocável (dizem que sua personagem foi inspirada na personagem da poderosíssima Madeleine Stowe, de Revenge). Mas o que mais me assusta é a falta de senso crítico do público brasileiro. Ora vamos, somos um país noveleiro... Como é que a gente aceita uma novelinha
meia boca como essa?
É um desfilar de cenas com graves erros de continuidade e contra-regra, e mesmo de elaboração (entrar no elevador para conseguir um sinal melhor para o celular... oi?). E a agulhada fatal? Gostaria de saber como se mata com uma agulha...
Hoje fomos presenteados com a filha da Gretchen dançando Conga la Conga! Gente, Conga la Conga!
Bom, paro por aqui. Não quero ofender os brios dos noveleiros de plantão... Falando nisso, viva a TV por assinatura... Esse luxinho que me salva da Globo no horário nobre. Plim plim!
domingo, 21 de outubro de 2012
Como se comportar com alguém com necessidades especiais?
Eu me procupo com a questão da acessibilidade porque tenho uma irmã cadeirante. Para mim é comum e corriqueiro chegar em algum lugar e com um olhar já fazer aquela análise... Se tem rampa de acesso, elevador, se o vão das portas é largo o suficiente, se o piso é escorregadio, se as mesas e cadeiras estão distantes suficientemente umas das outras, se a altura das mesas permite que um cadeirante se instale sem problemas, se existem banheiros acessíveis e outra infinidade de detalhes que quem não convive com pessoas com necessidades especiais não repara.
Claro que quem não vive essa realidade não pensa muito a respeito, ou antes só pensa quando a questão é levantada por alguém. É até natural isso. Existem várias realidades que não conhecemos e que não nos habituamos a considerar. Mas isso está errado. O mundo precisa ser acessível e bom para todos, não apenas para a maioria. Mesmo porque as realidades mudam, todos nós um dia seremos idosos e quiçá precisaremos de um mundo adaptado às nossas necessidades. Todos nós temos avós, tios, parentes, amigos, vizinhos, colegas de escola, enfim, alguém do nosso convívio que precisa de uma atenção diferenciada, por qualquer motivo, seja um cardápio de restaurante em braille ou piso antiderrapante. Basta simplesmente torcer o tornozelo para que uma escada sem corrimão se torne um Everest a ser escalado.
Recentemente, nas eleições, apesar de toda a propaganda apelando para a importância dos votos, para o sistema ultra moderno das nossas urnas eletrônicas que divulgaram o resultado da votação minutos após o encerramento, o que se via nas zonas eleitorais era uma batalha para velhinhos e deficientes físicos conseguirem subir vários lances de escada para votar. Não havia zonas especiais no térreo das escolas. Como pode existir cidadania e democracia dessa forma?
Porém, para esse tipo de coisa, existem leis que obrigam os locais públicos a se adaptarem. Arquitetos e engenheiros já pensam espaços acessíveis rotineiramente. Shoppings podem ser multados e processados se uma criança escorrega num piso molhado e se machuca. Existem normas claras de tamanhos de vãos de portas, elevadores e escadas. Banheiros, bebedouros e telefones públicos devem ser acessíveis. Isso tudo não somente pensando no conforto das pessoas especiais mas também na segurança de todos.
Mas e nós? Estamos preparados para seguir as leis? Estamos preparados para nos comportar da maneira mais solidária e adequada mesmo quando não existir uma lei que nos obrigue a isso, quando estamos num local privado? Nem sempre. Às vezes até mesmo por ignorância. A falta de informação nos impede de agir adequadamente mesmo quando nossa intenção é essa.
Seguem abaixo algumas regrinhas de ouro que podem nos nortear nesse sentido:
1) Ajuda: nem sempre o deficiente físico precisa de ajuda. Geralmente quando o ambiente tem as adaptações necessárias, não é preciso. Mas quando observar que alguém encontra-se em dificuldades ou que falta algum acessório para acessibilidade, ofereça ajuda. A pessoa vai lhe dizer o que você pode fazer. Se for um deficiente visual, toque de leve o ombro da pessoa e identifique-se, pergunte se pode ajudar e como.
2) Nunca, jamais se apóie, sente, toque na cadeira de rodas sem pedir permissão. Lembre-se, esse acessório faz parte do corpo da pessoa que dele necessita. Antes de empurrar, pergunte se pode ajudar primeiro, pois as cadeiras que não são motorizadas vem com um aro para que o próprio cadeirante a movimente, e se alguém empurra bruscamente, pode machucar suas mãos.
3) Quando um cadeirante ou pessoa com locomoção especial vem em sua direção e não há passagem suficiente para ambos, é você quem deve parar e aguardar a pessoa passar. É uma preferência cortez que a sua educação e sensibilidade deve oferecer, visto que para você ficar parado esperando o outro passar é fisicamente mais confortável. Concorda?
4) Em corredores de shopping é comum as pessoas se espremerem entre a cadeira de rodas e um vão pequeno, principalmente se estiver cheio. Ou então, correrem para passar na frente da cadeira. Isso além de ser uma grosseiria, é perigoso. Alguém pode se machucar. Cuide principalmente das crianças para que elas não tentem competir pela passagem com uma cadeira de rodas. Vamos zelar pelo conforto e segurança de todos.
5) Elevadores: a preferencia óbvia é do cadeirante. Espere que ele entre, segure a porta se for necessário. Ainda que você esteja com pressa, lembre-se: você pode subir escadas.
6) Quando não houver fila destinada a pessoas especiais e idosos, mulheres grávidas e pessoas com crianças de colo, eles tem preferência na fila comum, é um direito previsto por lei. Portanto, dê passagem e lembre às outras pessoas na fila de também fazê-lo.
7) Essa ninguém deveria ter que lembrar, mas não custa: nunca estacione nas vagas destinadas à idosos e pessoas especiais. Nunca estacione nas vagas destinadas à idosos e pessoas especiais. E nunca estacione nas vagas destinadas à idosos e pessoas especiais.
8) Seja cortês não somente com pessoas especiais, mas com todo mundo. Deixar passar, abrir a porta, segurar a porta do elevador, dar um lugar para alguém mais velho sentar, ajudar a carregar as compras... A gentileza tem o condão de ser contagiosa. Uma vez uma senhora deixou cair uma sacola e suas coisas se espalharam pela rua... Ajudei-a a recolocar as compras na sacola, ela foi embora sem sequer me agradecer. No dia seguinte nos esbarramos de novo e ela sorriu. E no seguinte ela me disse "Bom dia". Aposto que hoje ela seria capaz de ajudar alguém a recolher algo que caiu na rua, se ela tiver a oportunidade.
Gentileza. Essa palavra simples que tem a incrível capacidade de tornar o mundo melhor.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Seleções Abertas: Procuram-se pessoas especiais
Procuram-se pessoas especiais. Que tenham o riso fácil, o olhar franco e que apreciem conversas muito longas. Desejável que gostem de falar de tudo um pouco, de política a futilidades. Mas que gostem de falar, sobretudo, de futilidades. Por exemplo, de como passaram um dia feliz à beira de um lago, soltando pipa num parque ou tomando sorvete com seus filhos. E que gostem de livros. Não é necessário que tenham lido todos os grandes livros. Mas que apreciem o cheiro de papel impresso e de conhecimento que eles exalam.
Diplomas são desnecessários. Desde que as pessoas sejam graduadas na vida. Que tenham alguma história para contar, de sucesso ou de fracasso. Que tenham amado pelo menos uma vez, e quando não, que tenham desejado amar. Precisa-se também de pessoas que tenham chorado ao menos uma vez, que tenham sofrido perdas, as menores já são suficientes. Pessoas que tenham sido forjadas na dor e na alegria e que sejam simplesmente humanas. Pessoas que apreciem os prazeres simples, mas pelo menos um sofisticado (champanhe serve).
Precisa-se de pessoas curiosas, que não se contentam com “nãos”, “talvezes” e respostas prontas. Pessoas que tentam mesmo quando pareça impossível, mas que tenham coragem de desistir de casos perdidos. Precisa-se, sobretudo, de pessoas corajosas. Que tenham perdido medos gastos como medo do escuro, medo de amar, medo de ficar sozinho, medo de morrer e o medo de mudar.
Precisa-se de pessoas que gostem de crianças, de cachorros e de banhos de mar. E de pessoas que gostem de abraçar e de refeições com amigos, dessas que duram horas e horas regadas a vinhos, azeite de oliva e conversas e risos. Precisa-se de pessoas com mãos generosas, ouvidos atentos e corações povoáveis.
Contratam-se, com urgência, mães que perdem a noite de sono preocupadas com os filhos, pais que gostem de acalentar e contar histórias, filhos que cuidam dos pais velhinhos. E, também, irmãos que protegem, irmãs que trocam maquiagem e brincam juntas de boneca. Procuram-se amigas que elogiam as outras e são capazes de dar bronca quando necessário. Procuram-se amigos que se oferecem para ficar sem beber para conduzir os outros para casa. Procuram-se namorados que dão flores e paqueras que ligam no dia seguinte. Procuram-se esposas que não criticam e não discutem na frente das visitas. Procuram-se pessoas lentas em julgar, rápidas em perdoar e dar o primeiro passo.
Procuram-se pessoas legais. Que não pensem que são melhores que os outros. Que estejam dispostas a superar preconceitos, mágoas, violência e que querem plantar um girassol na janela.
Procuram-se pessoas especiais para povoar o mundo. Com urgência. Com benefícios.
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